O filme “Ilha do Medo” (Shutter Island), dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Leonardo DiCaprio, é uma obra que vai muito além de um simples suspense psicológico. Sua história esconde muitos significados que tocam temas como transtornos mentais, culpa, percepção da realidade e violência.
Mas será que o livro de Dennis Lehane, no qual o filme foi inspirado, aborda exatamente os mesmos temas?
[alerta] Atenção: Spoilers adiante! [/alerta]
A pequena diferença entre realidade e ilusão
Desde o início do filme, acompanhamos a história do agente federal Teddy Daniels, que investiga o desaparecimento de uma paciente no hospital psiquiátrico de Ashecliffe.
No entanto, a história conduz o espectador a uma revelação chocante: Teddy não é um investigador de verdade, mas sim Andrew Laeddis, um paciente da instituição, e toda sua missão investigativa não passa de uma ilusão criada por sua mente para fugir da verdade.
Nesse sentido, a história brinca com a percepção da realidade, tanto para o protagonista quanto para o público, que fica sabendo da verdade apenas no final.
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Aliás, durante boa parte do filme, estamos convencidos de que Teddy é um agente do governo lidando com uma conspiração, apenas para depois descobrirmos que tudo isso é um mecanismo de defesa contra a culpa insuportável que ele sente por ter assassinado sua esposa – interpretada por Michelle Williams – após ela ter matado seus três filhos.
O significado da frase “viver como um monstro ou morrer como um bom homem?”
No momento final do filme, Andrew, já ciente de sua verdadeira identidade, olha para seu psiquiatra e pergunta: “O que seria pior: viver como um monstro ou morrer como um bom homem?“
Essa frase carrega um grande peso, já que sugere que ele escolheu conscientemente continuar vivendo na ilusão de Teddy Daniels para não ter que conviver com a verdade de seus atos.
Além disso, esse momento do filme também levanta questões sobre a natureza da culpa e do arrependimento. Afinal de contas, Andrew não consegue suportar o peso de sua própria realidade e prefere a lobotomia, o que pode ser interpretado como uma forma de “morte” de sua identidade real.
Doença mental e os tratamentos polêmicos da época
O filme se passa na década de 1950, uma época em que os tratamentos para doenças mentais eram muitas vezes polêmicos e desumanos.
A lobotomia, por exemplo, era um procedimento comum e era vista como uma solução para pacientes considerados incuráveis.
No filme, aliás, a ameaça da lobotomia está sempre sobre Andrew como um destino inevitável caso ele não “melhore”, potencializando o terror psicológico do filme.
Além disso, o filme aborda o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) de Andrew, um veterano da Segunda Guerra Mundial que carrega traumas de batalhas e das maldades que testemunhou.
Esses traumas, combinados com a tragédia familiar, contribuem para sua piora psicológica e sua fuga para uma realidade alternativa.
As diferenças entre o filme e o livro
O livro “Ilha do Medo”, de Dennis Lehane, serviu de base para o filme de mesmo nome, mas as duas obras apresentam algumas diferenças importantes.
No livro, Andrew não mata sua esposa por vingança após ela afogar os filhos. Em vez disso, ele mesmo é responsável pela morte da esposa e das crianças, o que faz com que sua culpa seja ainda maior.
Outro detalhe é que a famosa frase “Viver como um monstro ou morrer como um bom homem?” não está presente no livro.
Além disso, no livro, Andrew aceita sua culpa e pede a lobotomia como forma de punição e alívio de sua consciência pesada.
Assim, podemos dizer que, enquanto o filme nos traz uma interpretação sobre sua possível escolha de esquecer a verdade, o livro foca mais na culpa e na incapacidade de Andrew de viver consigo mesmo após seus atos.
Essas diferenças entre as duas versões demonstram como o filme optou por um caminho mais emocional, que permitisse com que o público desenvolvesse maior empatia por Andrew, enquanto o livro enfoca no grande peso da culpa e suas consequências psicológicas.
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