Apesar de ser amplamente reconhecido por sua trajetória na música, Chico Buarque também deixou sua assinatura no universo literário brasileiro. Com uma escrita refinada, melancólica e por vezes ácida, ele transporta para os livros a mesma sensibilidade que marca suas canções.
Aliás, suas obras exploram temas como identidade, lembranças, desigualdade social e até medos da infância — sempre com um olhar próprio e cheio de nuances.
Roda Viva (1967)

Muito antes de seus romances ganharem espaço nas prateleiras, Chico Buarque já deixava sua marca nos palcos com Roda Viva — uma peça que virou símbolo de resistência em plena ditadura militar.
A trama gira em torno de Benedito Silva, um cantor que acaba sendo moldado e explorado pela indústria do entretenimento.
Ao longo da história, ele é manipulado por forças ocultas, que o empurram para longe de quem realmente é, tudo em nome do lucro.
Não por acaso, a peça gerou controvérsia na época, chegou a ser censurada, mas continua atual ao escancarar como a fama pode esvaziar o artista por dentro.
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Chapeuzinho Amarelo (1970)
Este livro é uma pequena joia que fala diretamente com as crianças, e também com os adultos que ainda convivem com medos antigos.
A personagem principal é uma menina dominada pelo medo — inclusive, sente medo até de sentir medo. Por isso, ela se retrai, evita experiências e se afasta da própria alegria de viver.
No entanto, a virada da história acontece quando ela decide enfrentar o Lobo, um símbolo daquilo que a assusta.
A partir daí, o monstro começa a se desfazer, pouco a pouco, virando quase um jogo com as palavras — uma metáfora simples e bonita sobre como os medos diminuem quando temos coragem de encará-los.
Ópera do Malandro (1978)
Aqui, temos um musical que virou livro e símbolo de um Brasil marginalizado, sensual e esperto.
O livro se passa na Lapa dos anos 1940 e reúne cafetões, prostitutas, policiais corruptos e contrabandistas.
Inspirada em clássicos como Ópera dos Três Vinténs, de Brecht, a obra mistura humor, crítica social e música para retratar a vida de quem sobrevive às margens da lei e da moral.
Além disso, é um retrato da hipocrisia de uma sociedade que finge seguir as regras, mas vive de pequenos acordos e malandragens.
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Benjamim (1995)
No livro, Chico Buarque nos apresenta Benjamim, um ex-modelo fotográfico que vive mergulhado em memórias confusas e desejos não resolvidos.
Ele acaba se envolvendo com uma jovem que traz à tona a imagem de uma mulher do passado, e, a partir daí, tudo começa a se misturar — realidade e fantasia caminham lado a lado.
Aliás, a história é marcada por um clima de suspense psicológico e nostalgia. Isso porque conforme Benjamim tenta entender o que aconteceu com a mulher que o assombra, o leitor é levado a questionar o que é verdade e o que é delírio.
Budapeste (2003)
Neste romance, Chico escolhe um protagonista incomum: José Costa, um ghost-writer carioca que escreve para outros autores e vive no anonimato.
No entanto, durante uma viagem forçada a Budapeste, ele se encanta não apenas pela cidade, mas também por sua língua, o húngaro, que ele decide aprender.
Nesse processo, surge a figura de Kriska, com quem ele se envolve, dividindo-se entre a vida nova em Budapeste e a antiga no Rio de Janeiro, com sua esposa Vanda.
O livro brinca com a ideia de identidade: quem somos quando mudamos de idioma, cultura e nome? E até que ponto a escrita nos transforma?
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Leite Derramado (2010)
Aqui, Chico mergulha em uma história mais complicada e reflexiva.
A história é contada por um homem centenário, internado em um hospital, que revisita mentalmente os caminhos da própria família.
Filho de uma elite brasileira decadente, ele relembra a glória dos antepassados e observa como tudo se perdeu ao longo das gerações.
Em meio a lembranças embaralhadas e devaneios, surge também uma crítica sutil — e por vezes afiada — à trajetória do Brasil.
O livro tem um tom triste, mas também irônico, e mostra um retrato da falência moral e econômica de uma classe que um dia teve tudo.